Em conversa com meu pai sobre o Núcleo Identidade Gráfica Capixaba – Nigráfica, e a minha atual relação com materiais gráficos antigos, ainda impressos em máquinas tipográficas, tomei conhecimento da existência de uma dessas máquinas em minha cidade natal, Alegre, localizada no sul do estado do Espírito Santo, que há não muito tempo ainda era responsável pela impressão do jornal oficial dos poderes executivo e legislativos da cidade, “O Alegrense”. Como bom alegrense e recente pesquisador interessado pela história da minha cidade, fui a campo para colher mais informações sobre a tal máquina.
Por indicação de meu pai, procurei Irene Domingues, antiga funcionária da prefeitura, para uma primeira entrevista. Nessa conversa um tanto informal de mesa de bar, consegui, em meio às várias histórias, pescar informações importantes para o início das minhas investigações. Descobri que a máquina tipográfica na época do seu uso, se encontrava na extinta gráfica da prefeitura. Também soube que a tiragem periódica dos jornais variou muito desde sua criação em 1911, mas que a máquina permaneceu a mesma até o fim da gráfica no primeiro mandato do ex-prefeito Dr. Djalma da Silva Santos, entre 2005 e 2008. Ireninha, como é conhecida na cidade, assumia as funções de corretora ortográfica e de prova do “O Alegrense” e desde que saiu da prefeitura, quando a gráfica foi fechada, não teve mais acesso aos seus antigos materiais de trabalho, deixando sem resposta, a pergunta que mais me intrigava: onde a máquina se encontrava naquele momento?
No dia seguinte ao da conversa com Ireninha, sob sua orientação, procurei outra funcionária da prefeitura. Esta, em rápida conversa por telefone, me disse que a máquina não mais se encontrava na prefeitura e que possivelmente fora levada para a Casa da Cultura de Alegre, sob os cuidados de Paulo Cassa, controlador geral do município. Era domingo, ainda tinha que voltar para Vitória e o último ônibus saía às oito da noite. Não tinha tempo a perder. Logo depois do almoço bati à porta do controlador para saber sobre o paradeiro do material da gráfica e, para a minha surpresa – uma boa surpresa, que fique claro –, tudo o que procurava tinha como novo lar a Biblioteca Municipal de Alegre da qual o Paulo tinha acesso.
Ao chegar lá, tudo o que vi compensou a minha busca. Havia lá a famosa – ao menos nesse texto – máquina tipográfica, uma também a antiga guilhotina, três estantes de tipos, várias gavetas repletas de tipos móveis, componedores, alguns ainda com textos compostos e estantes com inúmeras caixas de jornais datadas desde 1938. Todos os exemplares de jornal entre 1911 e 1937 foram perdidos numa enchente em 1994, um marco divisor de águas da história alegrense – até os exemplares mais recentes, já impressos através do sistema Offset.
Pretendo me aprofundar mais nessa investigação inicialmente pessoal, de suma importância não só para a compreensão da história do município onde nasci, mas também, como os estudos no núcleo de pesquisa tem nos apontado, para o entendimento do desenvolvimento das artes gráficas no Espírito Santo.
Fico devendo as fotos que tirei para o próximo post, no qual desenvolverei mais sobre minhas descobertas no interior do estado.
Ricardo Capucho — Julho/2010
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